quinta-feira, 1 de maio de 2008

Procuro um amor...



Por que, no meio de uma história amorosa que funciona, um encontro (que sempre parece mágico) pode levar alguém a trocar a intimidade de um casal companheiro por uma visão?Os evolucionistas dizem que os homens são infiéis por necessidade biológica. Para que a espécie continue, os machos seriam programados com o desejo de fecundar todas as fêmeas possíveis. A teoria tem uma falha: as mulheres são tão infiéis quanto os homens (embora os homens se recusem a acreditar nessa banalidade).O senso comum tem outra explicação: a paixão iria se apagando com a repetição, os humanos gostariam de novidade. Pequeno problema: a idéia de que a novidade seja um valor é especificamente moderna; no entanto a inconstância em amor é um hábito antigo. Outro problema ainda maior: na condução de nossas vidas, somos obstinadamente repetitivos. Insistimos nas mesmas fantasias e nos mesmos sintomas. Contrariamente ao que diz o provérbio, errar é divino, perseverar é humano. Por que seria diferente em matéria amorosa? Como pode ser que um encontro, em que mal se sabe quem é o outro ou a outra, contenha uma promessa que basta para levar alguém a dar um chute num amor que dura?Tento responder: apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do amado ou da amada. Antes de ponderar os charmes da idealização, duas observações.Um impasse: para manter a paixão, devo continuar idealizando o parceiro. Mas, para idealizar o outro, devo mantê-lo à distância. Se mantiver o outro a distância, renuncio aos prazeres de amor, companheirismo, cumplicidade, convivência.Um paradoxo: se me separo porque me apaixono por outra ou outro, o parceiro que deixei se distancia de mim, portanto volto a idealizá-lo e a me apaixonar por ele.

Por que gostaríamos tanto de idealizar o outro que vislumbramos num novo encontro? Uma nova paixão amorosa é provavelmente o sentimento que mais pode nos transformar para o bem ou para o mal. Por exemplo, se o outro me idealiza, carrego seu ideal como um casaco novo: modifico minha postura para que o pano caia bem no meu corpo. De certa forma, tento me parecer com o ideal que o outro ama em mim.Cada amor, quando começa, é uma aventura. Não porque encontro um novo parceiro, mas porque, ao me apaixonar, descubro ou invento um novo ideal e, ao ser amado, mudo para me aproximar do que o outro imagina que eu seja.A inconstância amorosa talvez seja a expressão imediata do desejo de mudar-não de trocar de parceiro, mas de se reinventar.Não é estranho que, na hora em que um amor começa, alguém decida se dar um novo nome? Nenhuma mentira nisso, apenas a convicção e a esperança de que a paixão nos transforme.Infelizmente, mudar é difícil: a sedução exercida pelos novos amores é uma veleidade, um pouco como as resoluções de que as coisas serão diferentes no ano que começa.Dizem que um casal que se ama briga muito. O uso erótico das brigas é conhecido: a paz se faz na cama. Menos conhecido é o uso amoroso das brigas: chegar ao limite da ruptura pode ser um jeito de recomeçar, de voltar ao momento inicial da paixão, quando ambos esperavam que o amor os transformasse.Problema: ninguém sabe qual é o ponto de equilíbrio além do qual as brigas não garantem renovação nenhuma, apenas desgastam um amor que se perde.Alguém se apaixona por outra pessoa porque, ela se queixa. É aquela coisa: seu amor me exige demais, você me sufoca, me prende. Isso, é claro, é um jeito de dizer: com você sou sempre o mesmo. Também é uma projeção: separo-me porque não agüento minha própria dependência de você. Visto que me detesto por estar a fim de lhe pedir amor a cada minuto, acho intolerável que você me peça. Quem pensa e age assim, em geral, fica sozinho no fim.Um homem volta para o lar depois de ter estado nos braços de outra. Sua mulher pergunta: você me ama ainda? E tem razão, é a única pergunta que importa.Uma mulher volta para o lar depois de ter estado nos braços de outro. Seu homem pergunta: você esteve com ele? Insiste: quero a verdade. Pede os detalhes: gostou? Gozou? Onde aconteceu, em que posição, quantas vezes?O ciúme feminino é uma exigência amorosa. O ciúme do homem é uma competição com o outro. E na verdade os dois ciúmes fundem-se e tem pouco a ver com o amor por quem está junto e muito a ver com as excitantes lutinhas de posse da infância.
Amar e ser amado é algo raro. Apaixonar-se é comum !

3 comentários:

Anônimo disse...

Amemos, e já estaremos fazendo muito nesse mundo de ódio e medos!

Anônimo disse...

Ótimo texto para uma longa reflexão ...A perguntas certas são: Você sabe o que é amor ? você se ama de verdade ? Acho q somente quando um dia essas respostas forem positivas, as pessoas saberão o significado maior desse sentimento único que move e constrói toda nossa humanidade.

Amanda disse...

Ai meus neurônios...
Talvez, a minha resposta a tantas inquietações seja: o amor tem de vir antes de muitos sentimentos ruins que temos, ou ao menos, sufocá-los, torná-los menores e colocá-los no lugar de desprezíveis, como realmente o são: egoísmo, competição ruim, possessão...
Dizem que amar depende muito mais da gente do que do outro... ando pensando que sim...
XX OO